terça-feira, 11 de março de 2014

Caracterização das personagens tipo da obra "Os Maias"

João da Ega
Caracterização Física
Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.

Caracterização Psicológica
Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico.

Eusébiozinho
Eusébiozinho representa a educação retrógrada portuguesa.
Também conhecido por Silveirinha, era o morgado de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão, tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo.
Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião pagas à hora.

Alencar
Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos". Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da moral.
Eça serve-se desta personagens para construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e generoso.
É o poeta do ultra-romantismo.

Conde de Gouvarinho
Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta.
Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos).
Fala de um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.

Sousa Neto
Deputado, representa os altos funcionários públicos. É inculto, defende a imitação do estrangeiro. Muitas vezes, por falta de cultura, coloca-se à margem das discussões, acatando todas as opiniões alheias, mesmo as mais absurdas.

Palma Cavalão
Cavalão por alcunha, era baixo, gordo, sem pescoço.
É o director do jornal "A Corneta do Diabo", cuja redacção é um antro de porcaria. Símbolo do jornalismo de escândalo e corrupto, é um imoral sem qualquer carácter. É ele que publica um artigo injurioso contra Carlos por dinheiro, vendendo mais tarde, a tiragem desse número do jornal, uma vez mais por dinheiro. Publica folhetins de baixo nível.

Dâmaso Salcede
Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n'A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer"
Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos.
Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respectivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.

Steinbroken
Retrato do diplomata solene, formal, bacoco, sempre receoso de afirmações políticas comprometedoras. É em tudo um medíocre, contribui para a atmosfera de "gentlemanliness" que se vive no Ramalhete.
Ministro da Finlândia, representa o diplomata inútil. É um entusiasta da Inglaterra. É também um grande conhecedor de vinhos.

Cohen
Banqueiro, representa as altas finanças. Considera que ainda há gente séria nas camadas dirigentes.
É calculista, cínico e embora tenha responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e afirma alegremente que o país vai direitinho para a banca rota.

Craft
É um personagem com pouca importância para o desenrolar da acção, mas que representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem.
Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza.
É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com rectidão". Inglês rico e boémio, coleccionador de brique-a-braque.

Condessa de Gouvarinho
Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto.
É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda.
Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil.
No final, depois de ter levado uma sova do marido, que descobriu a traição, tudo fica bem entre o casal.

Cruges
Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era demasiado chegado à sua velha mãe.
"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado.
Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro, pianista com uma pontinha de génio".
É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".

Tancredo
É um incidente onde é atingido por um tiro, que o leva até à casa de Maria Monforte. Esta acaba por se apaixonar pelo hóspede, com quem foge, subitamente, levando consigo a filha.
Tancredo acabará, mais tarde, por morrer num duelo.

Sr. Guimarães
Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830.
Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que identificavam a filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da trágica verdade que destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda.
Dizia-se o democrata Mesieur Guimaran, que vivia em Paris e era amigo de Gambetta, o comunista. Mas na realidade, vivia miseravelmente num sótão e era redactor do "Rapel", para onde traduzia notícias de jornais espanhóis.

Rufino
"De pêra grande, deputado por Monção e sublime nessa arte (...) de arranjar, numa voz de teatro e de papo, combinações sonoras de palavras".
De retórica balofa e oca, faz-se ouvir no Sarau Literário do Teatro da Trindade, o que levou Ega a classificá-lo de "besta" e Carlos de "horroroso". A sua poesia demonstra um desfasamento entre a realidade e o discurso, e uma grande falta de originalidade (recorre a lugares comuns), mas apesar disso é muito aclamado pelo público, tocado no seu sentimentalismo.

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