terça-feira, 11 de março de 2014

Caracterização das personagens principais da obra "Os Maias"

Eça utiliza dois tipos de caracterização das suas personagens: a caracterização directa e a caracterização indirecta. A primeira é usada de forma privilegiada para todas as personagens à excepção de Carlos. Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a autocaracterização mista de Maria Eduarda. A caracterização indirecta é utilizada para a personagem Carlos da Maia, do qual apenas se apresentam, inicialmente, pequenos traços físicos, deixando que as suas acções demonstrem a sua personalidade.

Afonso da Maia
Caracterização Física
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
Caracterização Psicológica
Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho de um Portugal impossível por falta de homens capazes.

Pedro da Maia
Caracterização Física
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.
Caracterização Psicológica
Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho".
O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes.
Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe.
Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.

Carlos da Maia
Caracterização Física
Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
Caracterização Psicológica
Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério).
Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e asConferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

Maria Eduarda
Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com um passo soberano de deusa".

Maria Monforte
Caracterização Física
É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e clássica, o colo ebúrneo".
Caracterização Psicológica
É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleans. Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos.
Mais tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido e o filho - Carlos Eduardo.
Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria.
Deixa um cofre a um conhecido português - o democrata Guimarães - com documentos que poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as origens.



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